quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Quero me tornar um Deckbuilder!

Quase todo jogador de magic um pouco menos casual já ouviu falar no termo "netdeck". Netdeckers são aquelas pessoas que escolhem um deck na internet, vendo listas que obtiveram bons resultados em campeonatos internacionais. Netdeckar é uma boa opção, pois o baralho obtido já teve seus resultados comprovados, ou seja, você sabe até onde (no mínimo) você pode chegar com ele.

Apesar desse ponto positivo (confiabilidade), existem alguns pontos negativos; você dificilmente conhece o ambiente do torneio ganho pelo deck copiado. Trocando em miúdos, o cara pode ter montado um deck que ganhe de fadas e monored, e ganhou um campeonato em que só enfrentou fadas e monored, só que quando você o copia, você vai mal em um torneio porque nele você enfrentou five-colors e kithkins.

Lógico que nunca é tão óbvio, primeiro porque seria perceptível um deck que ganhe tão fácil de alguns matchs e perca tão fácil de outros, segundo porque você, eu espero, se daria o trabalho de testar algumas vezes o baralho para descobrir suas principais fraquezas.

Uma vez familiarizado com o termo netdeck, venho finalmente falar sobre o assunto real desse post, que é uma compilação de dicas para se tornar um deckbuilder (ou seja, aquele que constrói decks). Deixo claro que eu NÃO sou contra o netdeck, inclusive, mesmo os deckbuilders PRECISAM netdeckar um pouco, para poderem se preparar para um ambiente.

Se você achou contraditório o parágrafo anterior, entenda, para montar um baralho não basta juntar um monte de cartas. Você tem que ter um objetivo na cabeça, você quer montar um deck que ataque ignorando as ações do seu oponente? Você quer um deck que surpreenda seu adversário com cartas dificilmente utilizadas? Você quer um deck de controle que procure esgotar as cartas no baralho do seu oponente? Uma vez definido esse objetivo, você normalmente terá uma base de cartas que são "obrigatórias" na sua lista, e alguns slots vagos. Nessa hora você precisa conhecer o ambiente, pois conhecendo seus oponentes, você poderá oculpar esses slots com cartas que facilitem a partida contra eles.

Exemplo: Você pretende inventar um deck bem agressivo, que utilize as cores preto e vermelho apenas. É de seu conhecimento que cartas como Kitchen Finks e Rhox War Monk estão jogando no ambiente, e essas cartas possuem uma boa força contra seu baralho. É interessante, portanto, você ter alguma resposta para elas (caso a resposta já não se encontre no pool inicial de cartas). Além disso, com a existência de muitos 5cc(five colors control), e portanto grande quantidade de Ultimatos, torna-se importante que ou você já tenha matado seu oponente nesse turno, ou que você possua alguma disrupção para evitar que ele jogue a carta.

Com a lista em mente, é necessário se fazer uma pergunta: Esse deck é melhor do que algum deck similar a ele que já exista?

Entenda, um deck mono white aggro pode ser bom, mas será que ele é melhor que o kithkin? Se você achar que sim, boa sorte, mas entenda, é MUITO DIFÍCIL você montar um deck branco, aggro, melhor que o kithkin. Você montou um deck control com 4 cores. Ele é melhor do que o 5cc?

Note que as vezes sua resposta será "depende". Algo do tipo "Ele é pior que o 5cc jogando contra fadas, mas é melhor no mirror.". Nesse caso, volte ao seu objetivo, e veja se essa era a proposta inicial do baralho. O QnT que eu utilizo ganharia da maior parte dos QnT do mundial, mas a partida QnT x Fadas é perdida para mim, e possível para as listas do mundial.

Uma vez que tenha seu objetivo definido, slots ocupados, uma lista em mente, e esteja convicto de que seu deck é único ou o melhor em seu estilo, chega a parte mais legal e exaustiva: Treinar!

Em 95% dos casos, a lista inicial do deck é uma porcaria. Começa que existem muitas cartas "boas" em teoria, mas que não fazem diferença no deck. Nessa hora você também descobre os overkills (quando você tem cartas demais contra aggros, e começam a sobrar recursos para jogar contra decks aggros mas faltam contra decks control, por exemplo), as possíveis zicas, etc.

A fim de ilustrar, o PV jogou o mundial com um fadas que utilizava 26 lands, porque ele FAZIA QUESTÃO de ter 4 terrenos no quarto turno. Na época em que era t2, muitas pessoas tentaram utilizar 8 cóleras (4 wrath e 4 damnation). O caso das 8 cóleras é uma situação típica de overkill, enquanto os 26 lands é uma situação clara de playtest. Só quem treinou muito com o baralho poderia notar que 25 lands chegava com certa constância no quarto turno sem o quarto terreno, e isso atrapalhava as partidas.

Nota: modificar uma lista não te torna exatamente um deckbuilder, já que você partiu de uma lista existente e somente a modificou. O exemplo do PV ficou aqui porque foi o que melhor ilustrou na minha opinião.

Ser deckbuilder é dificílimo, exige todas as etapas de treino normal, mais uma seção de brainstorm para montar o deck e modificar depois de N playtests.

Outro ponto importante para construir um deck é ouvir opiniões. Quem inventa algo acredita que tudo será como ele pensa, e frequentemente "deixa de lado" algumas boas opções. É interessante ouvir seus amigos falando de cartas que você não tinha pensado (quem vê de fora acaba tendo uma visão melhor, as vezes incorreta, mas mais ampla. Cabe a você filtrar opiniões e melhorar sua invenção), fora que a maioria dos jogadores conhecem um "deckmaníaco". Aquelas pessoas que montaram um fadas e jogam com ele desde o pré-releaze de morningtide. Essas pessoas saberão usar o deck completamente, e poderão te falar aonde você perde o jogo, e assim você poderá se preparar com cartas ou estratégias para não perder o jogo tão facilmente.

As recompensas? Inúmeras. Primeiro que seus oponentes não conhecerão o deck que enfrentam, o que te dá uma facilidade. Se eu vou jogar contra um cara de fadas, eu conheço, no mínimo, 80% do baralho dele, e pelo menos 50% do sideboard. As cartas que eu desconheço, eu ainda assim posso especular (algo como: ele deve usar X ou Y nesse slot e A ou B nesse outro...). Já seu oponente não sabe NADA sobre você. Ele não sabe se no sideboard se deck vai virar um combo, se ele tentará ser mais aggro ou mais control, e não sabendo a sua postura, é mais difícil dele escolher a própria.

Para ser um deckbuilder você precisará de:
1- Criatividade - para inovar e enxergar interações vantajosas.
2- Tempo livre - para montar, testar, remontar, discutir...
3- Conhecimento - ser deckbuilder não é ir ao cinema, que você decide e vai. Você precisa conhecer o ambiente, as cartas do ambiente, o que é bom, o que é ruim, o que você vai enfrentar...
4- Paciência - para ouvir 87% dos jogadores falando que você tem uma pilha de m... na mão e não desistir.
5- Saber Reconhecer os Erros - Porque a cada 10 decks montados, com muita sorte, eu disse MUITA SORTE, 2 serão bons.
6- Persistência - num geral, um bom deckbuilder, consegue acertar após cerca de 20 erros. Você deve reconhecer seu erro e desmontar, e ser persistente para não desanimar e voltar a construir um bom baralho. Entenda, é difícil inovar, e é necessária muita força de vontade para conseguir uma lista ideal.

Ousem, inovem, quebrem a cara, e quem sabe um dia acertem! Mas ao mesmo tempo em que tiro a idéia da cabeça de vocês de que construir um deck é algo impossível, também deixo claro que é uma tarefa árdua e complicada, e precisará de muitas derrotas antes de conseguir uma única vitória, que terá o melhor dos gostos. =)

Um comentário:

  1. ressaltando que uma visao diferente é muito importante, no meu caso, procuro me visulilzar enfrentando o deck que estou montando

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